Porque saúde mental é uma questão de estrutura
- CHAMA Coletivo
- 19 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Será que estamos vivendo em looping alguns desafios organizacionais?
Não é de hoje que saúde mental tem sido um tema presente e necessário dentro do mundo organizacional. No entanto, vale nos questionar a partir de qual olhar estamos observando, analisando e agindo sobre essa questão.
A OMS resume o conceito de saúde mental como um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidar com os estresses da vida, realizar suas habilidades, aprender e trabalhar bem, contribuindo para sua comunidade.
Importante lembrarmos, também, que saúde mental é um direito humano básico e fundamental para o desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico.
Quando você pensa, lê ou vê pessoas discutindo sobre saúde mental, quais palavras chave vêm à tona?
Será que são palavras como:
autocuidado, gestão de tempo, planejamento e organização, produtividade, resiliência, inteligência emocional, auto-eficácia, estresse, proatividade?
Ou surgem também palavras como:
cultura inclusiva, ambiente de trabalho saudável, carga de trabalho, segurança psicológica, metas, desenho organizacional, políticas de bem estar, flexibilidade, novos modelos organizacionais, tomada de decisão participativa?
Você percebe algo em comum entre o primeiro grupo de palavras e o que o diferencia do segundo?
Muitas vezes, olhamos para a saúde mental a partir do olhar apenas dos indivíduos - que estaria conectado com o primeiro grupo de palavras. Mas somos capazes e precisamos de um olhar mais sistêmico, responsabilizando as organizações ao repensar a sua estrutura, artefatos e relações, e não apenas colocar a conta nos comportamentos individuais.
Os desafios de saúde mental, apesar de estarem mais no radar das empresas, parecem ter se agravado, se prestamos atenção em dados como:
o Brasil é um dos principais países com casos de ansiedade e depressão no mundo. De acordo com o relatório "Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates" de 2017 da OMS, cerca de 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade, enquanto 5,8% tem depressão.
Em 2016, a ONU divulgou dados da OMS e do Banco Mundial revelando que cada US$ 1 investido no tratamento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, gera um retorno de US$ 4, considerando o impacto tanto na saúde quanto na produtividade. Com o número de pacientes aumentando em quase 50%, os custos globais anuais relacionados a esses transtornos chegam a quase R$3,5 trilhões, reforçando a importância econômica e social de investir em saúde mental.
O jornal da USP, por sua vez, em 2023, reforçou outra palavrinha que infelizmente tem sido cada vez mais frequente: burnout. “De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout, uma doença ocupacional reconhecida e classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022.”
Esses desafios se intensificaram com a pandemia que vivemos e são bastante distintos se consideramos recortes específicos, como por exemplo o olhar para gênero.
No próprio relatório de 2017 da OMS, em todas as idades e em todas as regiões do mundo, como apontam os gráficos acima, a taxa de ansiedade e depressão é consideravelmente maior entre as mulheres.
Por que as empresas continuam presas nesse looping?
Mapa de tensões feito pelo Klyns Bagatini com pitacoria da Flávia Barbosa e da Stephanie Velozo Crispino
Ao lidar com desafios complexos que se repetem em looping, aplicar uma visão sistêmica, entendendo a relação entre as diferentes tensões presentes é um ótimo caminho!
Precisamos dar estrutura e corpo representando o sistema como ele é e com os resultados que produz. Foi pensando nisso que fizemos o mapa sistêmico acima, resumindo um pouco da nossa visão sobre o fatores principais que contribuem para muitas empresas ficarem presas no loop da saúde mental.
Observar, reconhecer padrões e abrir espaço para enxergar os problemas a partir de uma nova ótica é a base para quebrar ciclos viciosos de forma consciente e consistente. Neste caso, repensando a saúde mental no trabalho.
Como repensar a saúde mental no trabalho?
Acreditamos que apenas falar sobre saúde mental, não é o suficiente. Precisamos:
de empresas compromissadas em verdadeiramente subverter essa pauta e combinar esforços que apoiam os indivíduos, mas que principalmente, repensam a estrutura, as relações de poder e as tensões que como resumidas no mapa acima, continuam fazendo essa dança acontecer, mesmo que a gente não queira;
trocar boas práticas e ampliar o nosso repertório, conhecendo a realidade de diferentes empresas e trabalhando essa questão de forma sistêmica na sociedade;
mergulhar a fundo no desafio sem nos afogar em dados, mas nos aventurando a experimentar e testar novas formas de promover uma cultura e uma estrutura que de fato enderece a questão;
acompanhar e nos apoiar ao longo do processo. Afinal, a forma de resolver tensões sistêmicas, é provocar uma intervenção dentro do sistema e monitorar o seu resultado, refletir sobre os aprendizados e continuar experimentando;
Se fizermos de forma coletiva, nossas chances de sucesso serão muito maiores. Além do que, vamos combinar que o processo também vai ser muito mais gostoso. Nada como reunir pessoas dispostas e abertas para solucionar um grande desafio real juntas.
Nós, do CHAMA Coletivo, queremos criar esse espaço elementar de troca, aprendizado e, principalmente, soluções que inspirem cada vez mais organizações a trabalhar o desafio de saúde mental de forma sistêmica e assertiva.
Bora influenciar a pauta de saúde mental no trabalho?
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Artigo escrito pela Stephanie Velozo Crispino e recebeu pitacoria do Klyns Bagatini.
Todos um mesmo fogo, cada um a sua própria CHAMA.
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